quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Do banco de reservas para a eternidade

O dia quatro de janeiro de 2012 reservou aos palmeirenses e amantes do futebol uma ingrata surpresa. O anunciado se concretizou. Aos 38 anos de idade, 20 de Palmeiras, o goleiro Marcos anunciou a sua aposentadoria. Isso mesmo, São Marcos pendurou as luvas.

Tipo de jogador escasso nos últimos tempos, Marcão, como é conhecido entre os boleiros, talvez seja um dos últimos remanescentes que traduza tão perfeitamente o futebol jogado com amor à camisa.

Marcos foi mais que um goleiro, foi um ídolo. É digno de estátua na porta do Palestra Itália e no coração de cada palmeirense. Apesar de ter dado grandes tristezas aos adversários com suas implacáveis defesas, Marcos foi querido por todas as torcidas enquanto jogador de futebol.

Apesar de ser um dos maiores goleiros brasileiros nos últimos anos, Marcos nunca abandonou a simplicidade trazida do interior de São Paulo, da pequena Oriente, e com isso conquistou quem o cercou.

Chegou ainda garoto à Academia de Futebol e teve paciência para agarrar a oportunidade que apareceu a ele. Substituiu seu ídolo Velloso em 1999 para não sair mais. Como era reserva usou a camisa 12 que posteriormente virou marca registrada. Contribuiu com generosa parcela para que o Palmeiras levantasse seu título mais importante, a Taça Libertadores. No mesmo ano, Marcos falhava na decisão do Mundial Interclubes.

No ano seguinte brilhou na decisão por pênaltis nas quartas-de-final da Libertadores ao defender cobrança realizada por Marcelinho Carioca e adiar mais uma vez o sonho do arqui-rival Corinthians da conquista da América. Por isso ganhou o apelido de santo.

Em 2002 foi o goleiro titular na campanha do pentacampeonato da Copa do Mundo na Coreia e no Japão, sendo importantíssimo na partida da oitava-de-final contra a Bélgica. Além de grande defesa na decisão contra Alemanha quando evitou um gol de falta cobrada por Neuville.

Em 2003 arrebatou de vez os incrédulos em sua santidade. Com o Palmeiras rebaixado à Série B, Marcos recusou uma proposta milionária para jogar no Arsenal da Inglaterra.

Marcos fez 530 jogos com a camisa do alviverde, seu único clube como profissional. Poderia ter feito muito mais se não tivesse sofrido tanto com lesões. Aos 38 anos, Marcos não suportava mais as dores com que convive há tanto tempo, por isso parou.

O Palmeiras clube tão grandioso foi pequeno. Sabendo da proximidade do fim da carreira de seu maior ídolo recente, não conseguiu montar times fortes para dar a Marcos um título de despedida.
São Marcos ainda concederá uma entrevista coletiva para dizer adeus e não descartou um jogo de despedida. Nem precisa, ele nunca sairá da mente dos palmeirenses. Deixará os campos de futebol na saudade.

EU E MARCOS

Tenho Marcos como um ídolo. O jornalismo me proporcionou um contato com o jogador que me deixou mais apaixonado pelo futebol, e por isso sou grato à minha escolha profissional.

No ano de 2009 ainda era estudante, estava apenas no segundo ano da graduação, mas já trabalhava pela Rádio Universitária da UFG com transmissões esportivas. Em partida válida pelo Brasileirão o Palmeiras visitou o Goiás no Serra Dourada. Era a minha chance.

Não consegui entrevistá-lo antes da partida, pois Marcos estava no aquecimento e depois no cara-ou-coroa. Passei o primeiro tempo planejando a abordagem. Ao fim do primeiro tempo atravessei o campo correndo. Quando cheguei ao gol defendido pelo “santo”, ele ainda estava fazendo sua oração, momento característico dele.

Quando abriu os olhos se deparou com um repórter jovem e tremendo na base. Fiz duas perguntas a ele, uma delas um pouco mais ríspida. Mas Marcos me atendeu com a maior presteza e ao término do papo me deu dois tapinhas nas costas com as mãos santas. Foi minha primeira conquista como jornalista.




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